Algo Na Mata.

Algo Na Mata.

Não entre lá. O cemitério da mata é um lugar maldito. Nele foram enterrados aqueles que foram injustiçados. Escravos, índios e animais mortos de maneira cruel foram sepultados ali.

As pessoas dizem que, todos aqueles que entram na mata, que se aproximam muito do cemitério, veem coisas estranhas, ouvem sons estranhos. Crianças rindo e correndo, gemidos agonizantes e por vezes, gritos de dor e pranto.
As outras garotas de minha idade tem medo do cemitério desde o dia em que a Yasmin entrou lá.
Ela desapareceu por três dias e quando voltou, ela parecia louca. Disse que ficou presa no "Túmulo Branco". E a coisa não para por aí. Ela também disse que foi torturada pelo "Homem deformado". Que ele fez várias coisas com ela, desde estupro até usar máquinas de tortura para fazê-la sentir dor. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu com a Yasmin, mas, um dia após ela ser encontrada, começaram a surgir coisas estranhas na vila: primeiro, hematomas e cicatrizes começaram a aparecer sem nenhuma explicação na Yasmin. Hematomas bem feios mesmo. 
E Então, as outras meninas da vila começaram a aparecer machucadas e a ter pesadelos com um homem deformado.

Mas, o pior mesmo começou uma semana depois, na forma de um sinal na porta das casas de algumas meninas.
Este sinal se parecia com um olho de gato: um círculo com um único tracinho dentro. Após a aparição destes sinais mas portas das casas das meninas mais novas, foi uma questão de horas para que o inexplicável tivesse início.

A tarde estava quente naquele dia. E então, de repente, um grito foi ouvido na rua silenciosa.
O grito era da mãe de uma garotinha de uns 5 ou 6 anos de idade, que havia acabado de ser esfaqueada por sua filha.
E não foi apenas isso. 
A menina também se jogou em cima do corpo agonizante de sua mãe e de uma maneira bestial, começou a morder e mastigar a carne flácida de sua mãe. Neste momento, a garota percebeu o que estava fazendo e gritou estridentemente. E Então, todos os moradores da vila ouviram em suas cabeças uma voz. Uma voz masculina, suave e que impunha respeito. O modo calmo e compassado com que essa voz falava causava uma sensação de medo tão profunda que, enquanto a voz falava, eu tremia feito gelatina.

A voz disse:

"Vocês me perturbam a séculos. Tomaram meu espaço. Destruíram a minha mata! Agora irão sofrer de minha ira. Por minha mão, vocês irão sofrer."

Ao final deste discurso sinistro na cabeça de todos da vila, eu desmaiei.

Uma semana depois, um bispo veio para a nossa vila para benzer os moradores e "exorcizar" a vila. E eu nem sabia que se exorcizava vilas...
Quando o bispo começou a benzer as pessoas, o céu começou a escurecer depressa. Nuvens cinzentas cobriram o céu. Uma tempestade se aproximava.
Quando o bispo começou a dizer as primeiras palavras do exorcismo, um relâmpago cruzou o céu, e todos nós ouvimos novamente a voz assombroza do homem deformado rindo enquanto assistiamos horrorizados quando se elevaram das árvores próximas, uma grande nuvem de vespas negras como a noite. Elas investiram sobre o bispo, matando-o com suas picadas venenosas. No mesmo momento em que o corpo do bispo caiu ao chão, um trovão rugiu e a tempestade começou a cair sobre a vila. Aquela foi a última noite em que eu dormi em minha antiga casa na minha adorada vila.

Na manhã seguinte, havia algo estranho no ar. Como uma cantiga baixa e distante. Então notamos o que havia de errado: as meninas que tiveram a porta marcada haviam desaparecido, a cantiga baixa era composta pela voz delas, que em uníssono, cantavam a canção final da vila.
Ao cair da tarde, as meninas voltaram para vila. Com a chegada delas, começou também um cheiro muito forte de algo podre. Elas estavam com os olhos vidrados, as unhas e a boca estavam sujas de sangue e em suas roupas, haviam marcas de patas de pequenos animais, além de pelos e penas. Uma das meninas tirou um pequeno verme de seus cabelos loiros e sem hesitar, ela o comeu.

Todos nós estávamos assustados com aquela visão que estávamos tendo. E então o inferno começou.
As meninas gritaram e correram para cima de seus pais, matando-os a mordidas e devorando sua carne. Aqueles que não foram atacados pelas meninas, como eu, fugiram para longe. Não foi fácil sair da vila, pois a única rota de fuga era pela mata, onde o homem deformado nos espreitava por detrás das árvores. Era possível até ver seu vulto correndo por trás das árvores. 
Raios caíram do céu e o cheiro de fumaça tornou-se forte. Não olhei para trás, mas soube na hora que, a vila foi atingida pelos raios. E foi incendiada. 
Enquanto fugiamos, a voz surgiu novamente em nossas mentes, dizendo:

"Corram. Tentem se esconder. Não importa para onde vocês fujam, eu sempre os encontrarei. Eu sempre vou estar lá. Vigiando-os no escuro. O fim sempre chega"

Passamos três dias em fuga pela floresta, vendo o vulto do homem deformado atrás das árvores.
Passaram-se varios anos desde o ocorrido sem que o homem deformado me perturbasse. Porém, ontem durante o jornal da noite, eu ouvi novamente sua voz, rindo suavemente no fundo de minha mente.
E pude também vislumbrar sua sombra na janela. E então eu vi a notícia de uma casa na cidade vizinha, que foi incendiada. Tudo o que a polícia e os bombeiros encontraram foi um diário de uma jovem garota, que descrevia o estranho morador do porão de sua casa: o Homem Deformado.

---