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O Outro Lado
Originalmente postado na FASE 10 do Grito de Horror Este texto é recomendado apenas para pessoas maiores de 18 anos. Pode conter assunto sensível, conteúdo textualmente violento, uso de drogas e pode provocar gatilhos mentais. Recomendamos cautela e descrição

Talvez você pense que sonho e realidade são completamente distintos, mas te digo que nada é o que parece. Existe uma linha tênue entre realidade e sonho, e às vezes eles se misturam em uma dança macabra, e em muitos casos, mortífera. Há aproximadamente cinco anos, depois de sofrer um acidente de carro, minha vida mudou muito. Não por causa de algum trauma, afinal, milagrosamente, me recuperei bem e sem sequelas, mas falo de meus sonhos em particular. Se é que posso chamá-los de sonhos... Bem, tal "sonho" se inicia sempre da mesma maneira: após as 23h, o quarto começa a ficar frio, e fica tão frio, mas tão frio, que posso ver minha própria respiração gélida. Em seguida, tudo em volta começa a se escurecer e a maldita TV liga sozinha, sempre no mesmo canal de música clássica. Não consigo mais ter qualquer atitude a partir deste ponto, e fingindo dormir, vejo pelos cantos dos olhos aquelas criaturas que pareciam ter saído do ventre do próprio Diabo. Sem rostos e com o corpo todo deformado e pútrido, pele grossa e sem pelos. Atrás deles, uma áurea parecia abrir uma janela para o inferno, onde eu podia ver em agonia bestas horríveis, que pareciam versões demoníacas e monstruosas de nossos animais domésticos, rasgando cadáveres entre chamas e rios de enxofre. Era aterrador e eu nada podia fazer a respeito, pois depois de tanto me ridicularizarem, decidi deixar estes pesadelos entre eu e "eles". Depois de alguns meses, eu já não conseguia mais dormir. Me afastei dos amigos e da família, pois estas criaturas começaram a aparecer nos sonhos deles também. Não da forma intensa e vívida como acontece comigo, mas por precaução, decidi me afastar para que ninguém das pessoas que eu amo se machucasse. Não sei o que faria sem meus amigos, ou principalmente meus pais. Em dada noite, praticamente louco com aqueles seres me atormentando e me tocando, me chamando para levantar da cama e segui-los sei lá pra onde, eu - agitado com tanto álcool e cheio de drogas em meus sangue, já que comecei a usar entorpecentes há poucos dias para quem sabe me refugiar destes pesadelos - de repente senti um acesso de raiva me consumir, e decidi que era a hora de acabar com aquele inferno. Levantei da cama e, visivelmente alterado, comecei a gritar:

Eles olharam surpresos e vieram em minha direção. Tentaram me segurar, grunhindo sons incompreensíveis, mas não me machucaram. Estranhei e relaxei por alguns segundos, e foi quando uma espécie de portal se abriu. Aquela mesma janela para os abismos infernais que eu sempre via. Tentaram me arrastar e foi quando percebi as verdadeiras intenções daqueles seres medonhos: me levar para aquele mundo infernal. Consegui pegar uma das garrafas de bebida que jaziam no chão do quarto e acertei um deles, me dando brecha para fugir. Então corri para a antiga fábrica de carne processada da cidade, pois um grupo de amigos meus que resolveram morar na rua fixaram moradia lá e sabia que podiam me ajudar se eu pudesse provar a existência daqueles monstros. Chegando lá, entrei no contêiner onde eles dormiam e, para minha surpresa, eles estavam lá, mas não da maneira que imaginei. Suas roupas eram as mesmas. Suas cores eram as mesmas. Mas o horror tomou conta de mim ao ver que meus melhores amigos se transformaram naquelas coisas sem face. Fechei a porta do local e os tranquei, bloqueando a porta com dois pesados armários que estavam ao lado. Chorei de raiva e gritei muito, me machucando muito ao chutar e esmurrar as paredes de ferro do local. Não pude acreditar no que estava acontecendo. Mas eu estava decidido a pôr um fim em tudo naquela mesma noite. Achando um barril de gasolina na dispensa, subi pelo teto do contêiner, fiz um buraco com uma faca que achei no mesmo lugar e despejei todo o líquido, ateando fogo naqueles monstros que um dia foram meus amigos. Pensei estar livre... Foi quando ouvi grunhidos no corredor e vi aqueles seres do meu quarto.

Já louco de raiva, não pensei duas vezes: corri em sua direção e me joguei com toda força nas pernas deles, os derrubando. Com aquela mesma faca, comecei a golpeá-los incessantemente e os esfaqueei o máximo que pude. Finalmente aquelas coisas medonhas e nojentas estavam tendo o que mereciam, e eu finalmente poderia viver em paz com meus pais que tanto batalhavam por mim. Com muito esforço, mas em um último apelo ao ver que elas, por incrível que pareça, ainda estavam vivas, consegui rolá-las até a ponta do corredor e as joguei no triturador de carne. Seu sangue que espirrou a vários metros e me encharcou era negro como carvão e fedia a carniça podre. Saí correndo pela fábrica, um pouco desorientado. Ao sair pela janela, pisei em falso na beirada do prédio e caí. A partir daí, a última coisa que me lembro é de sentir meus ossos quebrando antes de apagar. Depois disto, me vi em um quarto de hospital. Bem, pelo menos eu achei que se parecia com um hospital, pois as paredes eram todas sujas e cheias de fungos. A luz que vinha de fora da janela era anormalmente avermelhada. Uma TV velha tocava música clássica, segundo os médicos, para ajudar na recuperação dos pacientes.

Depois de verificar onde, de fato, eu estava, agora passei a entender meus sonhos. Mal sabia eu que acabava de acordar de um coma profundo, e ao despertar, pude ver a derradeira realidade. Toda aquela insistência para me levar embora era para na verdade me trazer de volta ao lar. A minha realidade era um sonho falso vindo de um coma que sofri ao cair de um dos barrancos dos abismos infernais. Há exatamente cinco anos, quando os pesadelos tiveram início. Pesadelos que eram a pura realidade. O reino infernal de chamas e rios de enxofre visto naquelas janelas interdimensionais, que para mim eram parte de um pesadelo, na verdade era o meu lar. O que eu achava serem monstros nojentos eram minha própria raça. Aquelas bestas selvagens, que repudiei infinitamente, eram meus animais de estimação. Os monstros, os quais queimei vivos de forma covarde, eram realmente meus amigos. E aqueles seres medonhos e sem rostos, os quais assassinei brutalmente, eram meus amados pais.


Autor: Alex Lupóz
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