A Panela de Pressão da Minha Avó

A Panela de Pressão da Minha Avó

Bom, como a maioria das crianças dos anos 90, ainda peguei a época onde nossa família parte morava na "cidade grande" e outra parte em sítios, e por isso sempre me liguei muito a natureza, principalmente quando ia ao sítio de minha avó Matilda. Eu e meus primos íamos pescar no ribeirinho e voltávamos famintos para o almoço. Vovó era uma cozinheira nata. Ela fazia tudo o quê pedíamos, com tanto que não comesse-nos nada da panela do vovô, pois era uma comida separada por conta da dieta dele. Era uma linda e artesanal panela vermelha, com charme daquela época impecável. Naquele dia, comemos carne de porco, e estaríamos felizes, se meu primo não tivesse desaparecido. O luto se abateu sobre nós. Bem, o fato é quê eu fui crescendo, e voltei mais recuperado para o sítio, e nos meus 10 anos de idade, fiquei mais ousado, e aquela dieta intrigante de anos ainda me perturbava. Sem falar que ninguém podia ver vovô, apesar de estarmos na mesma casa.

Era algo estranho , e eu precisava descobrir esta dieta misteriosa que estava dentro daquela panela de pressão. E foi isso que fiz. Bom...não havia nada dentro. Sério. NADA! Claro, fiquei frustrado. Será que era uma brincadeira da vovó e do vovô? Só Deus sabe. Ao anoitecer, enquanto passava em frente a sala principal da casa antiga, vovó me perguntou sem ao menos tirar o olho do crochê:

Nícolas, a comida da panela vermelha estava gostosa? Fiquei paralisado, pensando "droga, ela descobriu. A surra vai ser grande".

Antes que corra, saiba que não estou brava contigo, Nícolas. Pelo contrário, estou muito contente.

Contente pelo quê, minha vó?

Ora, agora você vai fazer a mesma dieta que o vovô

Hã? como assim?

Sua curiosidade foi maior que sua palavra. Como a do seu avô, que me desrespeitou e fez a mesma coisa

Desculpa, vó, não vai se repetir...Mas não entendi porque dessa dieta. Lá não tinha nada.

Você não viu, mas outros verão!

Bem...desculpe mesmo, vó! Vou dormir. Sua bênção

Deus te abençoe, meu neto!

Bom, fui dormir e tentar reparar minha mancada com vovó, pois sentia aquela doce mulher ainda estava chateada comigo. Droga.


Não sei porque, mas acordei ao lado da cama do meu avô e de meu primo. Sim, meu primo estava vivo, apesar de estar sem muitas partes do corpo. Descobri que ele cometeu o mesmo erro que eu, infelizmente. Agora tudo faz sentido: o quarto trancado, a dieta secreta...e parando pra pensar, me lembrei de um fatídico dia onde almoçamos...e vomitei. Aquilo na sopa da panela não era carne de porco, provavelmente era um pedaço do meu primo. E com certeza este braço que me falta, será servido no almoço de hoje.

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