Bicicleta Rosa [PARTE 2]
O inverno e seu clima sombrio haviam chegado, mas Rafaela continuava otimista apesar de toda tragédia em seu entorno, e em uma comemoração de ano novo alguns anos depois das imensuráveis tragédias, a vida parecia um pouco mais suportável. Era dia de jogo, e todos haviam bebido consideravelmente, mas estavam todos bem e unidos. O time local ganhava com uma boa folga, e isto só animava mais ainda o grupinho, que decidiu estender a noite em uma boate requintada da região.
Caio, um dos amigos de Rafaela, havia esquecido a carteira, então esta acabou por emprestar sua bicicleta à ele. Esta foi a última vez que Caio foi visto com vida, pois o selim se soltou ao passar em uma lombada, fazendo com que o longo cano o estripa-se do ânus ao intestino. Seu corpo foi achado beirando um pequeno riacho, juntamente com a bicicleta.
Os especialistas da perícia policial apreenderam a bicicleta para que pudessem verificar se houve erro de fabricação, mas constaram que a regulagem do parafuso foi movida manualmente, ou seja, Caio havia mexido na regulagem e deixado o parafuso praticamente solto por algum motivo. Como o laudo do legista apontou para uma quantidade altíssima de álcool e outras substâncias ilícitas, concluíram que o acidente foi resultado do efeito psicodélico desta mistura de drogas e álcool.
Logo após a homenagem no enterro de Caio, Rafaela pediu para que sua amiga Lia dormisse na casa dela para lhe fazer companhia neste momento tão difícil, afinal, Lia era quase uma irmã e eram inseparáveis. A amizade que as unia tinha de ser maior que qualquer dor. Ela queria devolver a bicicleta na loja e obter resposta, mas como a mesma foi devolvida a noite, Lia ajudaria a espantar o medo de dormir perto daquela bicicleta supostamente amaldiçoada. Mas Rafaela estava prestes a testemunhar o máximo da dor espiritual.
No meio da noite, Lia se levantou para fumar no quintal, algo rotineiro para uma fumante inveterada como ela, mas em meio a escuridão, não enxergou que a maldita bicicleta rosa estava no caminho e acabou tropeçando, se desequilibrando e acabou caindo da sacada para o jardim, e na queda, acabou batendo violentamente a cabeça num pesadíssimo vaso de cimento que adornava o local. Sua cabeça abriu como um coco verde, derramando uma quantidade absurda de sangue e fluídos, juntamente com seu cérebro. Lia também estava morta. Rafaela acordou com o barulho e surtou quando viu Lia sem vida em uma poça de sangue, e se arrepiou num gélido crepitar quando viu encostada em um canto, uma roda girando lentamente. Sim, lá estava...a maldita bicicleta rosa. Rafaela agora tinha certeza: havia comprado uma bicicleta amaldiçoada.
No dia seguinte, logo após o enterro de Lia que foi apressado por conta do estado de seu corpo, Rafaela decidiu que iria a loja de qualquer maneira, pois mais do que angústia, tristeza e raiva, ela precisava de respostas. Para sua surpresa, ao chegar, só havia um antigo prédio abandonado e corroído cruelmente pelo tempo. Ela tinha certeza de que foi naquele exato local que comprou a bicicleta. Mas não havia loja. Apenas o vazio de uma incógnita. Como poderia isto acontecer?
Rafaela estava prestes a ter uma síncope, quando de repente, eis que um senhor passou e perguntou:
Boa tarde, minha jovem! Que lindo exemplar! Quanto você quer por esta magnífica bicicleta rosa?
Rafaela ficou imóvel
Olha, eu pago o quanto quiser - Continuou o homem - Talvez não saiba, mas este é um modelo raro produzido pela antiga família Crowford
Hm...S-Sei. Aqueles que morreram num incêndio...
Estes mesmos! E que Deus me perdoe, mas mereceram, pois eram cruéis com seus humildes empregados. Alguns dizem que até hoje seus descendentes são amaldiçoados...
Como assim, amaldiçoados?
Não se faça de idiota, Rafaela
Rafaela congelou de pavor
Q-quem é v-você? Como sabe meu nome? E por que está sendo rude?
Ora, não sabe o que é uma maldição? Você acha que engana todos com esse seu ar singelo?
Não sei do que está falando. Preciso ir… - E saiu rapidamente
Você acha que a bicicleta é amaldiçoada? - Indagou o homem caminhando lentamente ao lado
Rafaela parou por um instante, pois aquilo era algo de seu interesse, apesar do receio de conversar com aquele sujeito estranho
Me fale logo o que sabe, senhor
Ô SUA VACA DO CARALHO! TÁ NA HORA, ABRE O OLHO, PORRA!!! A bicicleta não é nada mais que isso: uma bicicleta, uma porra de uma bicicleta.
HORA DE QUÊ, SEU NÓIA? NÃO FALA ASSIM COMIGO! Essa porra tá amaldiçoada SIM!!!
Ha ha ha! Relembre quem foi a verdadeira "maldição" na vida de seus amigos e familiares. E quando digo maldição, digo no sentido pejorativo, afinal, que besteira. Maldições não existem. Maldições são desculpas usadas por pessoas fracassadas ou mundanas. Um bode expiatório para seus crimes. VAMOS!!! RELEMBRE...RELEMBRE...RELEMBRE...
Rafaela então se sentiu catatônica e conforme a voz do sujeito ficava cada vez mais distante e disforme, ela entrou em transe, e via tudo com clareza agora. Seu irmão morreu porque antes dela sair, colocou uma forte droga no leite de seu irmão, por isso o mesmo perdeu o equilíbrio. Caio foi drogado antes dela emprestar a bicicleta também, e foi ela mesmo que afrouxou a trava do selim. Sua amiga só tropeçou na bicicleta porque foi empurrada por ela. E Denis? Bem, ela sabotou o gerador para que o mesmo explodisse perto dele, mas para ela, a roda da bicicleta destroncando Denis foi um bônus.
Ela sai do transe e depois de recobrar os sentidos, já esbraveja:
Que porra foi essa??? Me drogou seu puto de merda??? Jogou lança-perfume em mim seu pervertido??
RAFAELA, SUA IDIOTA MALDITA! É TUDO REAL!!!
REAL É UM PAU NO TEU CÚ, CUZÃO!
CALE A BOCA, POIS É REAL, VADIA! É REAL! Se acha uma pessoa boa ainda? Amaldiçoada por uma bicicleta? Olha, idiota, objetos não guardam maldições. Pessoas sim. Sabe aquela visão da bicicleta arrumada após o acidente foi simplesmente uma alucinação da sua covardia te enganando. Ela te fez querer culpar uma simples bicicleta. Pensou que era o quê? A porra de um Christine? HA HA HA HA
FALA QUEM É VOCÊ, FILHO DA PUTA DO CARALHO!!! DESGRAÇADO!!! - Gritou ela atacando o sujeito
O sujeito então se transformou em um humanóide com cabeça e pés de bode com uma pelagem negra. Rafaela ficou sem reação. O monstro continua seu diálogo:
Quem eu sou? Eu sou teu Senhor a partir de hoje, teu mestre, teu rei! E agora que finalmente caiu na real e saiu desta sua alucinação pós-morte, posso te levar finalmente para o inferno.
VAI SE FODER! PÓS-MORTE TEU CÚ? Eu tô viva, seu porra! MONSTRO DOS INFERNOS!!! - Gritou Rafaela
Ihhhhhh, viva? Ora, pensou que na explosão somente Denis tinha morrido? BUUUURRAAAA DO CARALHO! Você é tão inútil que acabou se matando também, por isso estava presa nessa fantasia, pois não lembrava de sua morte de tão imprestável que é, calculou mal seu plano e se fodeu. E nossa, "monstro dos infernos"? Amo um elogio. Parece que adivinhou. Vim direto do inferno mesmo, só pra te levar. Mas olhe pelo lado bom, apesar de ter me dado trabalho te fazer cair na real, eu gostei do elogio. Vou deixar você ir sozinha, afinal, pode ir pedalando para sua danação eterna...nesta linda e brilhante BICICLETA ROSA!
Autor: Alex Lupóz
Parte 1: http://www.gritodehorror.com.br/2020/09/bicicleta-rosa-parte-1.html
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